Relatório de Mario Draghi sobre o Futuro da Competitividade Europeia
No relatório apresentado à Comissão Europeia, Mario Draghi alertou para os grandes desafios que a Europa enfrenta em termos de competitividade e segurança.
No relatório apresentado em 9 de setembro à Comissão Europeia, Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu, alertou para os grandes desafios que a Europa enfrenta em termos de competitividade e segurança num mundo em rápida transformação. A mensagem central do relatório é clara: apesar da força económica da Europa, a região está em risco de perder terreno face a choques externos, tensões geopolíticas e avanços tecnológicos, a menos que tome medidas estratégicas urgentes.
A Vulnerabilidade Europeia
Draghi começa por destacar como a economia global está a mudar rapidamente. As tensões geopolíticas e a desaceleração do comércio global estão a afetar de maneira desproporcional a Europa, que depende fortemente de fornecedores externos para matérias-primas e tecnologias críticas.
Além disso, o relatório destaca o atraso da Europa em relação a outras grandes economias, como os Estados Unidos e a China, no desenvolvimento de tecnologias inovadoras. Apenas quatro das 50 maiores empresas tecnológicas do mundo estão sediadas na Europa. Esta lacuna tecnológica ameaça a competitividade do continente num futuro onde a inovação será cada vez mais decisiva para o sucesso económico.
Três Áreas de Reforma Estratégica
Para responder a estas ameaças, Draghi identifica três áreas críticas onde a Europa precisa de atuar rapidamente: inovação, descarbonização e segurança.
1. Colmatar o défice de inovação
O relatório é claro ao apontar a falta de investimento em inovação como um dos maiores desafios da Europa. As empresas europeias investem menos €270 mil milhões em investigação e desenvolvimento (I&D) do que as suas concorrentes americanas, e o setor tecnológico da Europa permanece subdesenvolvido. Grande parte da estrutura industrial do continente continua focada em indústrias tradicionais, como a automóvel, enquanto setores emergentes, como a inteligência artificial e a biotecnologia, têm dificuldades em florescer
Para colmatar esta lacuna, Draghi propõe uma reformulação do ecossistema de inovação da Europa. Entre as suas recomendações estão a criação de um estatuto de “Empresa Europeia Inovadora”, que ofereceria às empresas acesso a regulamentações mais harmonizadas em toda a UE, e um foco mais concentrado em investimentos públicos em tecnologias disruptivas. Ele também defende uma maior colaboração entre universidades e indústrias, de modo a acelerar a transferência de tecnologia do laboratório para o mercado.
2. Alinhar Descarbonização e Competitividade
A Europa lidera o mundo em metas de sustentabilidade, com o objetivo de alcançar a neutralidade carbónica até 2050. Contudo, Draghi alerta que esta transição para uma economia verde deve ser gerida com cuidado, para evitar o enfraquecimento da competitividade económica. Atualmente, os preços de energia na Europa são consideravelmente mais elevados do que nos EUA ou na China, colocando as empresas europeias em desvantagem.
Para enfrentar este desafio, Draghi apela a uma estratégia energética mais coordenada na Europa, que inclua uma combinação de energias renováveis, nuclear, hidrogénio e captura de carbono. Ele também sublinha a necessidade de melhorar as infraestruturas energéticas, como as redes elétricas, que atualmente limitam a expansão da energia renovável.
3. Reforçar a Segurança e Reduzir Dependências
O relatório destaca, ainda, as vulnerabilidades da Europa em termos de segurança e dependência de fornecedores externos, particularmente em setores críticos como os semicondutores e matérias-primas estratégicas. A Europa continua altamente dependente de um pequeno número de países para o fornecimento de tecnologias essenciais, o que representa um risco significativo num ambiente global instável.
Draghi defende que a Europa deve investir mais na diversificação das suas cadeias de abastecimento e aumentar a produção interna de materiais e tecnologias críticas. Além disso, ele apela a uma maior integração das capacidades de defesa dos países europeus.
Financiamento da Transformação
O financiamento para a transformação da Europa é outro ponto central do relatório. Draghi estima que a Europa precisará de €750-800 mil milhões adicionais por ano para cumprir os seus objetivos em áreas como a descarbonização, infraestruturas digitais e segurança.
Conclusão: Um Momento Decisivo para a Europa
O relatório de Mario Draghi é um apelo urgente à ação. Para que a Europa se mantenha competitiva e capaz de garantir a sua segurança e prosperidade, são necessárias reformas profundas e investimentos significativos. A capacidade da União Europeia de fechar o défice de inovação, equilibrar a descarbonização com a competitividade e reforçar a sua segurança determinará o seu futuro num mundo em rápida mudança.
Nos dias 23 e 24 de outubro, a região do Alentejo foi palco da 4.ª Reunião do Comité de Acompanhamento do COMPETE 2030. Este encontro procurou fortalecer o diálogo e a colaboração, impulsionando o desenvolvimento de iniciativas cofinanciadas pelo Programa.